segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Ensaio sobre a eternidade
Eu, mais que um homem de palavra, sou um homem das palavras. Aliás definir essa diferença já seria o suficiente para justificar o tema que pretendo desenvolver pois ser da palavra poder significar uma incapacidade de reflexão sobre aquilo que se disse em um momento impensado e isso não é nada bom. O que por sua vez colocaria a frase em descrédito, coisa que, para quem se auto define como pessoa "de palavra", não seria um boa qualidade.
Sou das palavras porque elas são a mais racional das nossas capacidades de comunicação. Mas levo muito isso muito à sério. Tem um "post", desses do face que achei bem interessante. Dizia assim: Eu penso "A", me leem "B", comentam "C" e espalham "D". Isso é o que há de mais comum entre as pessoas pois parece que as comunicações entre nós desprezam os  fundamentos do entendimento. Parece que as pessoas querem se apropriar das palavras como que elas lhes pertencem, querem dar o seu significado pessoal e aí a coisa se perde.
Um dia eu vi alguém sugerir a um outro amor eterno. Em princípio isso seria algo que se diz a alguém para expressar o quanto se ama, quer superlativizar o sentimento de forma a tornar inquestionável tal sentimento.
Ouvir isso deve ser gostoso. Numa mesa comendo fondue, tomando um bom vinho, ouvindo uma boa música. Pois esse é o momento em que há espaço pra se dizer qualquer coisa que dignifique os sentimentos entre o casal. Entretanto uma frase dessa quando se vive mal uma relação, quando se está separado por problemas sérios de convívio, deve soar diferente da cena anterior.
Dai fiquei pensando como que certas palavras, por serem tão subjetivas como é o caso de eternidade, precisam, digo, merecem um esforça maior que as definam de maneira mais práticas. Embora tenhamos um distanciamento existencial profundo sobre a eternidade, o fato é que essa palavra tem um poder imprescindível para a nossa percepção de mundo. A exemplo dos casais apaixonados, dos homens de fé e dos filósofos, a eternidade merece definição que a torne objeto pratico em nossas vidas mortais. Pois, do contrário, quando um filósofo falar dela em um texto de 500 páginas fará parecer que não vale a pena pensar sobre ela; quando um religioso falar sobre ela parecerá que ele tem um discurso esquizofrênico, ou seja ele fala como um evidente ser mortal de uma imortalidade que ninguém vê mas ele afirma existir. Por fim, quando os apaixonados falam dela como algo que só se diz para se conseguir um beijo especial ou para tentar por fim a alguma coisa muito errada que um dos dois tenha feito com o outro.
Então depois de longa reflexão sobre o impasse tive a ousadia de definir o que parecia indefinível. Para tal parti de um pressuposto básico que é uma pergunta negativa que seria: O que não é eterno?. Não é eterno o que efêmero. Assim efêmero é o que é breve. O que é breve tem curta duração, um início e um fim. Portanto é finito. Logo, não oferecendo nenhuma novidade poderia elaborar um silogismo em que a eternidade é algo perene e, por conseguinte, infinito. Mas ouso me apropriando da essência da palavra, ir além.
Embora haja possibilidade de certa comparação não termino esta palavra nesses termos. Eterno não precisa estar na categoria da infinidade ou em contraponto com o que finito mas pode se combinar. Eterno é aquilo que é para sempre, e se antagoniza daquilo que é passageiro. Ou seja não se limita a passagem de uma instância mas presume a continuidade de percurso por onde quer que se caminhe.
Todavia não é um fim em si mesmo visto que não faz pacto com a finitude, é perene. Assim, quando disser alguém sobre a eternidade não se descomprometa com a realidade da vida finita. Pois pode soar como uma espécie de diminuição da gravidade dos erros presentes pois se tem uma eternidade para se consertar as nossas negligências.
Quando olhamos para o céu, esse que é a mais próxima expressão de eternidade é cheio de exemplos de que a eternidade tem os seus limites. Cada corpo celeste que vemos nele é finito. O céu que vemos agora, nesse instante, jamais se repetirá pois todos os corpos se movem no firmamento. O que impede, em milímetros, que a posição se repita exatamente como se vê e, como estrelas morrem, quando voltarmos no mesmo ponto que estamos agora, isso é, daqui a aproximadamente vinte oito mil anos, não haverá mais em hipótese alguma o mesmo céu que se vê agora. Portanto o máximo que a eternidade pode ser é: "Um conjunto de coisas finitas".
Assim, se você é um filósofo da hora, um religioso da fé inquestionável ou romântico de ocasião, pense bem em tratar com carinho cada uma das finitudes que compõe o seu conceito de eternidade. O outro agradece.
Ricardo Le Duque
18/08/2014

12:29

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