sábado, 22 de novembro de 2008

Nós da madeira


Somos o Nós da Madeira.

Que foi semente,

Germinou na terra,

Floresceu alimentando a fauna.

Cresceu árvore,

Coloriu paisagens e acolheu os pássaros

em seus ninhos de primavera.

Foi ao chão, virou casas, móveis,

instrumentos musicais...

e piano, violino, bandolim e violão

ao ritmo do tambor agora se faz jus.

À luz de um dom. Um som de nós

O “Nós da Madeira”

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

pra não dizer que não falei dos focos





Esta é uma sequência tirada em Saquarema.
Paraíso de quem ama.
O casal caminhava de mãos dadas. tinham em média uns 60 anos e a graça brilhava neles mais que a própria luz do sol que, discreto, se punha.

Fotos minhas


Para ilustrar a crônica coloquei essa foto que tirei de dentro de um ônibus em que viajava para uma fazenda de família lá Juiz de fora. Vinha do Rio de Janeiro e ainda não tinha subido a serra de petrópolis quando vi o nascer do sol. Estava lindo mas o ônibus mexia muito. Tinha ainda o vidro das janelas que estava embaçado com o calor interno em contradição ao frio da matina.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Crônicas Cariocas

Esta é uma crônica que eu iria inscrever num concurso. Depois que a fiz vi que estava fora dos padrões do evento. Preferi não inscrever a ter de retalhá-la. No entanto resolvi publicá-la aqui.
Se me derem suas valiosas opiniãoes eu ficarei grato. (sejam quais forem)

A mão de Deus.

Honório Gurgel, sete da manhã. Roseneide levanta num salto só da cama. O despertador falhara e ela tinha de estar no Méier para uma entrevista de trabalho as oito.
Em quinze minutos a professora estava de banho tomado, dentes escovados, colocando as últimas peças da roupa que havia separado na noite anterior.
A moça era organizada e não queria perder tempo com a escolha no dia seguinte. Pegou uma xícara de café que Diana sua empregada fez às pressas, tomou um gole e seguiu depressa até a garagem para pegar o carro.
Dona Antonia, sua vizinha virava a noite vendo programas evangélicos na TV e ao passar pela porta da religiosa Roseneide ouvira um hino: ... segura na mão de Deus e vá ...
Sentiu um arrepio que a surpreendera. Ela era uma mistura, não rara, de ateu e gnóstico supersticioso e ficara confusa com o que sentira. Seria um bom ou mal presságio?
Positivista que era “pragmatizou”: isso é sorte! Ah! (desdenhou do azar)
Descendo o elevador Neide pensou, dando mole pro inimigo: ah meu Deus! (engraçado ateu pensando assim) é isso! O pneu deve estar vazio! hmmm não... o combustível deve estar baixo... será que a bateria arreou?
Chegando no subsolo a porta se abre diante do seu carrinho com os quatro pneus cheios. Ao entrar meteu as chaves na ignição e virou fazendo cara de quem sente uma dor antecipada e... o carro pegou na primeira. O painel mostrava o tanque quase cheio e metade dos seus problemas haviam sido resolvidos. Faltava agora só chegar na hora certa. Não podia perder aquele emprego.
Tinha esperança de encontrar a avenida Brasil fluindo até a linha amarela. Tudo parecia bem até que o trânsito começou a reduzir o ritmo do fluxo. Logo aparecia em sua memória as frases machistas de seu Rosenildo (que Deus o tenha). – vai entrar na fila dos otários! Neide respondia como quem extravasasse algo reprimido no passado. – ah! Cala a boca papai! Deixa de ser chato. Sou eu quem está no volante. E, quer saber já superei isso mês passado com a minha psicóloga. Vaza! Me deixa que eu “to” com pressa.
Agia com autoridade de quem está “terapeutizada”. Com o fantasma do seu Rosildo derrotado abriu o porta luvas sacando uma caixa de bombons, como quem pega um troféu. Ah eu mereço! Abriu com destreza o delicioso kopenhagem deglutindo com prazer libidinoso.
Já sabia identificar a fila dos otários e já ia longe deixando os “machos’ tolinhos para trás.
Entrava na faixa seletiva e saia antes das câmeras pegá-la. Dava gargalhadas estranhas que ela mesma questionou – cruzes! O que é que está acontecendo comigo? Deixa eu segurar a essa onda! Caramba to correndo como nunca. (justificava para si) ah mas eu não posso perder essa oportunidade. Essa escola paga bem e eu preciso pagar as prestações do carro que estão atrasadas. Retomava o pé das coisas tentando voltar para a pista adequada.
Saiu de uma vez da pista seletiva numa daquelas banguelices de redutores. Acontece que que a guinada que dera produziu uma fechada num carro que vinha ao lado. O cara ficou pau da vida e veio piscando, buzinado e, pelo visto xingando ela de dentro do carro. – ah esse cara é palhaço. Ele não viu que eu estava tentando voltar pra pista? Pô tinha espaço mas ele acelerou de sacanagem (nisso ela tava certa). O homem jogou seta pra ultrapassar e ela viu que não tinha jeito de fugir daquele 2.0 que vinha furioso para emparelhar com ela.
Relaxou. Deixou que ele se aproximasse e ... quando ele baixou o vidro pra xingá-la ela antecipou-se baixando o seu vidro e disse com um sorriso que tirara do baixo ventre e como uma ninfeta falou para o despreparado homem: – Que gato! Maliciosamente deixou o som no último volume com Keny G.
O cara ficou entre o xingamento engolido e um sorriso babaca de homem vaidoso que baubuciou: Rem! Rem! Rem! Rem! Até hoje não se sabe se ele tentava rir, se tava engasgado ou se tentou falar alguma coisa. Apenas ficou com os olhinhos brilhando com a mão num meio bye bye! Com uma das mãos e um sorriso amarelo meio babão.
Depois de driblar o pobrezinho do homem, Neide fez cara de desdém como quem pensa: ah como homem é bobo.
Veio pensando longe sobre o fato que teve de fazer nova manobra arriscada para não perder a agulha da linha amarela. Se perdesse estaria derrotada.
- ufa! Suspirou. Comeu mais bombons nesse pequeno trajeto que na última semana de TPM.
Tudo estava conspirando a favor até entrar na linha amarela. O transito esta pior que o da Brasil. E Neide via diante de si seus planos evaporarem quando se deu conta de que haviam vendedores de água gelada. Ah água gelada em avenida é sinal de que ali as pessoas passam muito tempo. Não fosse isso seriam apenas uns biscoitinhos. Ambulantes não arriscariam seu gelo num breve engarrafamento. Só mesmo para aquelas retenções de responsa. A mulher regrediu a condição de menina como quem desiste de ser gente grande.
Pensou, já com os olhos cheios dágua. – só mesmo um milagre pra mudar meu destino. Roseneide estava apostando tudo. Parecia disposta a deixar de ser ateísta e desafiar o sobrenatural como quem quer uma sinal.
Seu olhar se perdia na seqüência de carros que via pela frente.
Viu uma luz amarela piscando como quem fala com ela: Moça! Senhora! (Seu coração acelerou) – meu Deus é vc? Ta falando comigo? (o coração bateu mais forte tum dum, tum dum) e de repente como quem acorda de um transe. O tum dum era mixado com um toc toc de um homem de terno e gravata que tentava vendê-la uma bíblia em meio aquele trânsito parado.
O homem sorriu educadamente. E disse – Jesus te ama! Compre essa pequena bíblia e deixe que o senhor lhe guie. Ele tem um plano pra vc.
Meio atônita e em tom de conversão passou a mão na carteira e comprou o livro sagrado como quem aceitava uma mãozinha de Deus.
Tentou pegar mais um bombom que não achou. A caixa estava vazia.
De repente, inesperadamente, pôde ver que a luz que piscava era de um carro da empresa da linha amarela que acabara de tirar um veículo enguiçado e o trânsito fluiu.
Milagrosamente Neide estava quase chegando ao seu destino quando se deu conta que estava com muita euforia. Questionou-se: – será que é um milagre? (respondeu a si mesma meio com descrença: – é nada eu to de pileque pois a caixa da kopenhagem é de bom bom de licor. Soltou uma gargalhada daquelas que ela mesma se espantava. E na seqüência viu adiante uma blitz do bafômetro.
Pronto! Pensou. – parece até uma coisa! Eu mal virei crente e já tô sendo provada.
O policial mandou ela encostar. Seu carro já estava quase parando. Neide já se via sem o emprego sonhado, descrente e.. agora presa e algemada por embriagueis pela lei seca. A partir dali assumiria seu ateísmo de retaliação. – Já era! Deus não me ama.
O guarda se aproximou e disse bom dia! Neide olhou para ele como quem não tem nada a declarar. E disse bom dia preciso chegar na rua “tal” às sete horas. falou o endereço e a hora do compromisso como quem não tem mais o que dizer mas não desiste de dar chance para a sorte. Quem sabe ele teria dó.
O guarda olhou para a pequena bíblia no banco do carona, abriu um sorriso com os olhos brilhando e disse: – a paz do senhor irmã! Siga aquela mão única que você chega lá em tempo. Mas não saia daquela mão é ela vai te deixar direto nesse endereço.
Neide seguiu, segurando naquela mão como se fosse a de Deus e chegou ao seu destino, passou na entrevista e, com todas as contas pagas, trabalha lá até hoje.
Mas nunca teve certeza plena se aquele episódio teria sido mesmo uma conversão ou um delírio dos bombons de licor.
Ela só sabe de uma coisa. De que deu certo seguir o conselho de segurar naquela mão e ir.
Dona Antônia nunca soube disso. Neide tinha medo de ofender a beata comparando a mão de um fluxo de trânsito à mão de Deus.