segunda-feira, 15 de julho de 2013



A maluca e o covarde
                Nesses dias assisti , sei lá, pela quarta vez,  um filme que já utilizei em minhas aulas de filosofia e de sociologia. chama-se Hancock. é um daqueles filmes de super-herói só que, diferente dos outros mais comuns, o protagonista, interpretado pelo Will Smith, é uma espécie de anti herói.
                Poderia aqui falar das estratégias pedagógicas que usei pra tornar essa película popular em um valioso instrumento didático para minhas aulas, mas não! Não é isso que pretendo. Ao assistir este filme de sucesso, modesto, eu me recordei de um bordão que é um espécie de start para que todos os poderes fenomenais de heróis que são, fossem liberados. é disso que gostaria de falar.
                Pra quem não assistiu ao filme cabe uma explicação. Hancock é um cara que não recorda porque tem todos aqueles dons e só descobre quando, "por acaso", se depara com a sua milenar companheira. Mulher que sempre amou mas que, por uma explicação profundamente simbólica , quando estão juntos vão perdendo os poderes de semi deuses até que se transformam em mortais. É uma terrível metáfora sobre as características dolorosas, que tanto nos atemorizam, e sofríveis do amor, do grande, derradeiro e implacável amor.
                 Mas voltando à explicação do bordão, quando alguém chama nosso Herói de covarde... ah!... ele vira bicho. E com um tom que nos remete às nossas infâncias "faroestiânicas" ou "shaolílicas" quando algum menino que gostaria de testar a sua masculinidade, provocava: "ih alá!... covarde..." Isso soava como: ou você parte pra porrada ou então assumia sua incapacidade de expressar classicamente seus dotes de homem. (rs ... era desse jeito) mas a coisa nova para mim no filme era que havia uma correspondência feminina para tal start. quando nossa Heroína era chamada de maluca... ah... "a porca torcia o rabo!". Essa era uma deixa pra que ela liberasse todo o seu poder contra o homem que mais amava.
                achei esse detalhe, que soa mais como um bordão engraçado, a coisa mais significativa do filme. Pensei cá comigo (...) e não é que é verdade?! Nós, homens, quanto mais desejamos provar que somos machos alfas, mais nos lançamos nas aventuras perigosas das bravatas corajosas diante  de nossos opositores. No fundo, lá no fundo nós somos um montão de covardes tentando nos vencer nesse medo de nos prostrar à condição de nossas fraquezas humanas. Para entrar no hall divino, onde poderíamos ser aceitos, ou escolhidos, acreditamos que em primeiríssimo lugar temos de ter coragem.
                E a mulher? (...?...) Cresci acreditando no conceito moderno de igualdade e acabei me adestrando a amortizar as diferenças entre homens e mulheres. Isso me levou a equívocos risíveis como a infantil ideia de que nós homens só seríamos bons amantes se na hora da cama ficássemos a disposição de seus gozos pra que só depois víssemos o "nosso lado" aos poucos, no encaixe da vida íntima pude me deparar com o "gozo" maior de uma mulher que se delicia ao ver seu homem se lambuzar frenético sem técnicas kamasútricas. apenas um homem feliz por ter uma fêmea que o satisfaz ah como é bom ver os olhinhos superiores de uma mulher, brilharem por verem que o seu macho não conseguiu se controlar diante de tanta gostosura que ela representa. As vezes digo que saí do armário depois de ter experimentado tal assunção da minha condição masculina.
                Véi! Vai entender mulher! É mesmo difícil! Acho que agora entendo o que me levou a me sentir tão atraído pela psiquiatria e pela psicologia. No fundo acho que isso era parte de minha profunda vontade de entender as mulheres. Epa! "Eureka!" É o que me ocorreu quando vi que a correspondência do bordão usado por Hancock que era: " me chama de novo de covarde" e na sua mulher era: "me chama de novo de maluca". Pronto! Lançara-se sobre mim uma luz acerca do que seriam as mulheres. Recorri logo a uma das ptonisas mais importantes na tradução da alma feminina que é a Martha Medeiros, adoro lê-la pois que tal fato me permite ler melhor as mulheres. E estava lá nas palavras da minha guru "Toda mulher é doida" Esta num status do facebook da Martinha. Me lembrei de uma outra tradutora credenciada pela alma feminina que é a Grande e maravilhosa compositora Fátima Guedes. Ela tem uma novíssima e maravilhosa canção que tive a honra de ouvir de sua própria boca " Toda mulher é maluca".
                 Aliviei as tensões de pobre homem em busca dos potes de ouro além do arco-íris e aceitei a minha simples condição humana. Sou apenas um homem, com medos, dúvidas e incertezas, Pronto pra tentar impressionar as mulheres como um cavaleiro com sua espada contra os dragões e agora sim mais confiante por saber o que sou ao me deparar com o que vocês, mulheres são. Vocês são... lindas... vocês são gostosas... são... meigas... são...
                É... (...) acho que não tenho coragem de dizer!

Ricardo Le Duque


15/07/2013 as  15:05

domingo, 7 de julho de 2013

Desertos - Ricardo Le Duque, Nando Pina e Paulo Razek

Canta Mari Mari Tiscate

Álbum Canto Camaleônico - 2013


domingo, 5 de maio de 2013

Perdão
O perdão é o mais poderoso remédio para as dores da alma e do coração. Perdoar é algo intransferível. Não abra mão dele com aquela tradicional frase: "Quem perdoa é Deus". Tá aí um legado espiritual em nossas vidas materiais. Realmente o perdão é para os fortes, embora não seja uma condição de admissão para um credenciamento divino. Perdão é posse que se tem em terras de paz. É mais gostoso dar do que receber. Aliás quem precisa de perdão sente-se muito mais em débito que em crédito. Embora só busque perdão aqueles que acreditam fazer por merecê-lo, há também nos corações arrependidos a ideia de que é preciso um despojamento maior para pedir perdão do que para perdoar. Por isso acreditam que têm uma chance de recebê-lo. Portanto, perdoem. Perdoem sem medo! Não há o que temer no perdão. Não se trata de perdoar para endireitar ninguém. Ninguém endireita ninguém com perdão. Perdoamos para nos livrarmos do peso do ressentimento que tanto nos afoga em mágoas. Perdoar é como vir à superfície de nossa vida ganhar fôlego para uma nova apneia em nossos mergulhos profundos nos mares do amor. Quem é perdoado tem sobre si os seus próprios desígnios. Há dois tipos de perdoados: o que se agarra ao perdão como quem merece a vida, e o que se agarra à vida como quem merece perdão. A vida vem do pó da terra e é suscetível às leis da vida. Sucumbe às forças da vida e, por isso quem se agarra a ela a perderá, condenada pela lei da gravidade. Afundará em direção ao vale da morte, posto que vida pela vida é caminho da morte. O perdão é algo elevado. Está além das leis da natureza e da vida mortal. Quem se agarra ao perdão como quem merece a vida recebe vida. Não a vida orgânica, aquela que perecerá um dia pelas leis da natureza, mas a vida eterna. Eterno é aquilo que dura pra sempre com a esperança que nos acompanha até nosso momento derradeiro. A vida que se recebe pelo nosso abraço ao perdão recebido e leve como uma pena. Isso mesmo! Pena é aquilo que recebemos quando julgados e condenados pelos nossos erros. É a nossa sentença. Receber perdão vai muito além do cumprimento da pena. É a profunda conscientização e arrependimento dos nossos erros. Aquele que for capar de abraçar o próprio perdão não terá como fardo as suas penitências, sejam lá quais forem, pois, livres do erro, perdoados por uma justiça além da justiça dos homens, receberá um pena como as que permitem a liberdade dos pássaros. Aqueles recebem o firmamento como lugar de viver. Assim serão capazes de voar sobre a gravidade dos problemas e pairar no céu como as nuvens que prenunciam a mudança do tempo. Podem viver suas tempestades, podem sofrer com os ventos frios que antecedem a chuva, mas poderão contar com a certeza de que verão o sol brilhar novamente. O sol que nos oferece a luz, o calor e a vida depois dos temporais. Ricardo Le Duque 04-05´2013 as 16:30

terça-feira, 16 de abril de 2013

Verdadismos Venho observando anos a fio uma certa tendência nos discursos da muita gente boa um certo compromisso sagrado com a verdade. Um compromisso com a verdade até que nos cai muito bem. A verdade é sempre nosso link maior com o sagrado. Mas assim como qualquer religião esse compromisso precisa ficar restrito às esferas mais altas e nobres do nosso religare. quando começamos a usar coisas sagradas pra enquadrar qualquer situação caímos no risco de nos tornar fundamentalistas. É assim que ocorre com qualquer religião e não é diferente com coisas que se sacralizam. Desde as mais profundas parábolas às palavras de ordem que movimentam exércitos contra um mal qualquer que seja ele. Cruzadas se constroem assim. Aqueles que ganham posição de reputação sacerdotal, portanto de credibilidade interpretativa, vão incitando os seus fieis até que a porteira da intolerância se abre e os rebanhos com o gostinho de sangue no canto da boca entoam seus gritos de guerra como quem está disposto e disponível para o massacre dos hereges. Vejo posts defendendo verdadismos em tudo. É um denuncismos onde todos ficam vulneráveis e isso é uma ferramenta ótima nas mãos daqueles que querem ver a boca crítica calada. Afinal quem não tem pecado que atire a primeira pedra! Já dizia Jesus, O cara! Aliás, falando dele, uma frase boa que disse sobre a verdade vem a calhar: Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará! Amigos essa frase não esta fundamentando uma religião fundada no verdadeirismo assim como um grupo de religiosos cristãos viram, no dia de pentecostes, a justificativa para fundamentar o pentecostalismo. Se isso for assim você, defensor do verdadeirismo, pode se ver numa situação inconsciente de achar que tem de sair dizendo verdades por aí como quem "fala em línguas" para ganhara credibilidade entre os seguidores dessa religião que cresce e se arroga de ser a verdade e o caminho da salvação. A única verdade que te liberta é aquela que, pela tua ignorância, te tornou um dia escravo de um equívoco qualquer. Por exemplo um dia o teu pai ou tua mãe, ou qualquer pessoa importante na tua infância te diz, não necessariamente com estas palavras: meu filho, ou filha, cuidado com esses gays porque eles são uns pecadores e isso é do mal. Você vai crescer durante anos com essa voz ecoando e te levando a ter medo de uma aproximação de qualquer homossexual. Isso é uma grande mentira que pode te tornar escravo do preconceito e você pode perder a oportunidade de viver uma vida plena sem o peso da culpa por exemplo de se afeiçoar por um gay. Conhecer a verdade que somos todos irmãos e que nossas diferenças são muito mais geradoras de alegrias que de tristeza é libertador. Conhecer a verdade que todos nós somos pecadores, que erramos o alvo volta e meia por conta dos nossos desejos ocultos, o que nos torna ainda um pouco mais iguais, também é libertador. Agora, conhecer todos os segredos dos outros, fingir que alguém nesse mundo está imune a imperfeições para acreditar que essa pessoa pode ser você, sair contando pra todo mundo tudo o você sabe sobre todo mundo inclusive sobre você, não é, não foi e nem nunca será libertador. Portanto não nos deixemos levar por essa correnteza de pseudo certezas maniqueístas, onde você se vê obrigado a pular numa espécie de trem da verdade pra não ficar pra trás do condutor da história. Afinal de contas quem deve fazer a história somos nós, todos nós. Precisamos estar comprometidos com a verdade que nos confere honestidade. Ela é o centro, o eixo do bom caráter. Agora, não confunda honestidade com sinceridade e muito menos com franqueza. Honestidade é fruto de um diálogo consigo mesmo, você, seus anjos e demônios e no fim vence o bem. Sinceridade é um compromisso com o outro sem fingir parecer aquilo que você não é, e franqueza é uma coisa de gente descomprometida com as pessoas em função de achar que aquilo que sabe, enquanto verdadeiro, é mais importante que a dor e o constrangimento gerado pela suposta verdade. Sejamos sempre honestos. Sinceros quando solicitados e francos só quando for preciso usar de franqueza para nos defendermos de falsos moralistas. Contra esses, com suas cascas grossas, só um grito de verdade pra colocá-lo de frente com suas próprias mentiras. Não gaste a verdade em vão, é como usar o nome de Deus pra qualquer bobagem do dia a dia. sair por aí falando "verdades" pode te colocar lado a lado com os fofoqueiros de plantão. Comprometa-se com a verdade que liberta. A sua verdade só tem o poder de libertar você mesmo. se desejar ajudar a alguém a se libertar dê a ela conhecimento sobre as ciências que você adquiriu pelo seu esforço por saber. Mas nunca pense que poderá libertar ninguém da ignorância. Só conseguirá de fato oferecer chaves para que ele possa descobrir aquela que lhe serve melhor. Assim a verdade será realmente a que liberta e não a que torna os outros reféns da extorsão moral a qual os voyeurs construtores de dossiês que nada têm de compromisso com a verdade e nem muito menos com a liberdade. muito aquém disso as usam como estratégia de guerra. Não pela verdade mas pela confusão que ela pode causar. Ricardo Le Duque 06-04-13 18:33
A Estação do Amor
Certa vez meu compadre Edgar, grande homem no pensamento, me falou de um lógica que ele tinha sobre o amor. Me falou de quatro "As" o primeiro seria o da Atração, o segundo a Afinidade, o terceiro a Amizade e por fim o Amor. Achei muito interessante esse olhar sobre a coisa e resolvi acrescentar mais um "A" a nobre do amigo e tentar explicar a razão de cada um desses "As". criei então argumentos assim: Na estrada de ferro que caminhamos em buscas do amor é preciso encontrar primeiro a estação de embarque ideal para que possamos contemplar de maneira adequada a paisagem que serve de inspiração para uma chegada triunfal ao destino. sabe aquela chegada em que se é recebido com bandinha de música, bandeirinhas olhares de carinho e sorrisos largos... Logo logo percebi o por que do primeiro "A" ser o de Atração. O portão de embarque precisa ser sedutor, acolhedor, precisa gerar confiabilidade segurança, afinal viagens são sempre um momento de muita ansiedades e receios. elas nos coloca sempre diante de expectativas do que está por vir e receios de que algo possa sair errado. sabe aquela coisas de não se relaxar se perguntando será que está tudo aqui? não esqueci nada? falta alguma coisa? O portão de embarque melhor é aquele que nos permite relaxar, esquecer as tensões e sentir que é ali que você devia estar naquele momento. De que tudo vai dar certo de que não há com que se preocupar e que se você chegou até ali agora é a hora de embarcar e pronto. A atração tem uma perspectiva geográfica de ser. Ela é um poder de atração a lugares, a cenas, a paisagens midiáticos. A atração é como um ímã mesmo, há um exercício de magnetismo, uma força gravitacional ou sucção de um redemoinho seja de vento, de fogo ou de água , algo o qual se aceita ou contra o qual se rebela. Nunca confunda Atração "substantiva" com as "adjetivadas". É erro comum as pessoas acharem que a atração entre pessoas é sinônimo de atração sexual. Ledo engano! A atração meramente sexual não é fundada nas leis da Física ela é fruto de nossa imaginação. Como diria Descartes em sua tese de inatismo, é uma ideia fictícia. Atração sexual sem a Atração "substantiva" é bem representada naquele desconfortável momento de depois de um gozo, olhar pro lado e se pergunta: O que é que eu estou fazendo aqui? Dá aquela desesperadora vontade de sair correndo pra lugar nenhum só pra se livrar daquela cena, daquela paisagem. A Atração da qual falo é lugar incontestável. É o lugar! Os primeiros filósofos tentavam entender os elementos pra entender a origem das coisas e explicaram o seguinte: se você joga uma pedra pro alto ela volta pro chão, se jogar água ela entra pela terra até atingir o seu nível, se liberar um gás ele se espalha pelo espaço e o fogo sempre sobe ao céu. assim cada um de nós tem o seu lugar. somos atraídos para ele sem que possamos nos dar conta. Quando encontramos pessoas que nos oferece "O lugar" e isso só acontece quando é recíproco o portal se abre e somos atraídos para um fantástica aventura essa viagem da qual falamos. Pronto alguém menos afeto a metáforas pode estar falando: ih! pirou na batatinha! Mas pra esse eu posso ser mais didático. Sabe aquela coisa de você conhecer alguém que você roda, roda, roda... e se senta ao lado dela? Entra na internet pra fazer uma pesquisa... e... lá está você procurando ou esperando que ela "apareça". Ou então fica olhando pro telefone... ligo, não ligo... será que ela vai ligar? Sim a atração é física quando nos liga pelos sentidos. Embarcados devidamente vem a dimensão do "A" que incluí no pensamento Edgariano. É a Admiração quando você embarca no ponto certo a viagem é completa e te oferece um roteiro extremamente aprazível. Quando você está encantado com um lugar dá aquela sensação de que ali é o caminho certo pra se chegar ao seu lugar você mantém aquilo que Josteim Gardem define como a condição para filosofar que é a admiração. admirado com alguma coisa sua ideias fluem e, como explicaria Platão, tudo aquilo que sempre existiu no mundo das ideias vai fluindo para a realidade. admirar uma pessoa que você não sente como atraente é uma tarefa um tanto quanto difícil né? Mas atraído... flui que é uma beleza. Admirado você vê de bem perto as coisas pois já está atraído por ela e então vem o próximo "A" que é o de Afinidade. Quando se está olhando de perto pode-se ter a clareza de interesse do outro, olhando os detalhes de bem perto percebemos o quanto aquele lugar/pessoa é o mesmo que sempre sonhamos ter, viver, ser... nos percebemos a fim um do outro. os afins em comum nos aproxima tanto que nos vemos numa condição de cumplicidade que nos percebemos que precisamos criar um código de ética que sacramente essa relação. Nos remetemos a lealdade e fidelidade. chegamos a quarta e confortável estação da Amizade . Ah essa é a hora em que se tem a clara sensação de que finalmente não se está mais sozinho na viagem. Aquela parada é uma das mais gostosas. Sabe aquela coisa angustiante de você viver momentos incríveis mas não ter ninguém como testemunha? Pois é, com o amigo não se corre esse risco. Aquilo fica pra vida inteira. Não há nada mais eterno que a vida inteira! Acho que foi dessa eternidade que o poeta Vinícius de Moraes falava. Finalmente a estação de chegada. O Amor acho que dá até pra ouvir o trem chegando com seus piuís etic tacs... fumacinhas uhuuuuu! bandinhas e bandeirinhas nos recebem de braços abertos chegamos ao lugar onde sempre desejamos estar. hora de espreguiçar, levantar do banco pegar as malas que só trazem o que realmente interessa e desembarcar. Aqui o texto termina. Mas a aventura... só está começando. Ricardo Le Duque 23-01-13
O Beijo idiota
Como de costume, sempre que algo me angustia e me comprime na direção da escrita, dou uma breve pesquisada nas palavras que pululam em minha mente. Digiro-as e as dirijo ao papel digital. Nessas últimas 24 horas, isso aconteceu, e eu não podia me acomodar em apenas ficar pensando como fiz durante muitos anos que perdi a oportunidade de dizer a outros coisas que pensava. Andei de um lado ao outro como quem anseia por um lugar que possa materializar uma obra, assim como fazem os gatos na caixa de areia. Sentei-me frente ao note e fiz aquilo que ninguém poderia fazer por mim. Escrevi. Fi-lo freneticamente tentando aliviar a angústia pela tragédia que ceifara vida de jovens estudantes e que regurgitei por horas a fio antes de digerir. Sei que comecei o texto um tanto quanto escatológico, visceral e verbofágico. Mas o que aconteceu não desceu bem na minha alma de pai que tem filho adolescente e tantos alunos com as mesmas idades daqueles jovens ávidos pela diversão e o prazer típicos de suas lindas fases de vida. Então veio a magia das palavras que o texto me impõe. A primeira, certamente, foi "idiotas". Nossa! Vi coisas idiotas! Um ateu idiota mostrou no face uma foto dos corpos da tragédia e proclamava a não existência de Deus. Vi uma idiota, pretensamente crente, mostrando fotos que precederam o momento das mortes com uma outra foto de jovens rezando. Proclamava, em tom semelhante ao do ateu supracitado, que se estivessem rezando não teriam ido pro inferno. Vi também gente idiota que, na ânsia de promover justiça, tentou culpar os seguranças que retiveram brevemente a saída dos jovens em pânico. Por fim, fui vendo a idiotice mor que foi a do vocalista da banda que acendeu o sinalizador que provocara o terrível incêndio. Outra palavra que me doía como cólicas mentais foi o nome da boate: Kiss. Beijo! Nossa! pensei como uma palavra tão linda e significativa poderia nominar um lugar que fora palco de tal tragédia. Recorri à pesquisa e reflexões simultaneamente. Lembrei-me de frases que me marcaram sobre o tema "beijo". Uma, de um grande amigo e frasista, Edgar Koester, que dizia aos seu alunos: Estudar sem entendimento é igual a beijar sem sentimento. Essa Frase eu utilizei muitas vezes com meus alunos pra levá-los a pensarem um pouco mais em suas micaretas. Eu brincava com eles numa ilustração pra chocá-los, dizendo que o que eles faziam em tal ambiente não era beijar, mas sim beber cuspe e lamber baba. Dizia que o beijo é uma das coisas mais lindas que o ser humano aprendeu a fazer na busca do amor e que é um encontro de almas muito antes de ser meramente de corpos. Ainda que seja em nome do prazer, há que se reservar lugar delicado para um beijo em um outro ser humano. Então comecei a me dar conta de que o fato de uma boate ter como nome Kiss deveria fazer menção à prática das micaretas, que é essa moda de beijar do tipo "quanto mais, melhor". Num desses acertos televisivos, o folhetim, verdadeiramente infantil, Carrossel nos presenteou com uma trilha que uniu clássicos da MPB com outras músicas novas, não inferiores. Dentre elas, há uma que fala do beijo. Diz em um trecho: "Será que tem beijo ruim? " Lembrei-me de uma frase de um poeta francês Guy Maupassant "O beijo fulmina-nos como o relâmpago, o amor passa como um temporal, depois a vida, novamente, acalma-se como o céu, e tudo volta a ser como dantes. Quem se lembra de uma nuvem?" Na frase de Maupassant podemos perceber o espectro perigoso de um beijo ainda que encantador e nos leva a pensar sobre a necessidade de alguma responsabilidade diante dele e de suas consequências. Coisa que certamente nem o "responsável" pela boate, nem o "responsável" pela banda teve. Não isentei o público dessa responsabilidade à toa, pois quem oferece o beijo é o grande responsável por suas consequências. Assim como Judas traiu Cristo, que aceitou resignadamente aquela marca. A "gurizada" que acha que um show musical precisa de tochas e sinalizadores pra encantar, como faz a banda de gente grande Kiss, que toca hard rock, se quer impressionar a plateia, deveria ter profissionalismo de quem executa o seu ofício. Os beneficiários do estabelecimento que atraem mercadologicamente os jovens ávidos por seu rituais dionisíacos devem assumir a proteção de seus generosos clientes. Uma boate tem, nesse caso, valor simbólico de templo. Gente! Vivemos um momento da História em que a individualidade toma conta de nossas almas de forma avassaladora. Isso ocorre por estarmos negando a nossa necessidade de vida em grupo e de assumirmos as nossas obrigações coletivas e públicas. Por isso produzimos o pior tipo de representação. A língua grega é uma das mais importantes chaves de compreensão de nossos significados. A palavra idiota vem de "idio", que significa "próprio". Idiota na Grécia antiga era a palavra pra designar aqueles que, mesmo tendo todas as condições e atributos necessários à vida na Polis, se recusavam a participar. Recusavam-se a uma consciência coletiva. Os idiotas de hoje dispensam qualquer informação que não os privilegie imediatamente. Busquei imagens que tratassem de beijo para ilustrar esse texto. Elegi essa que vocês podem ver em homenagem a um herói anônimo, o tenente Lacerda, que morreu no incêndio da Kiss. Ele morreu devido a inalação dos gases tóxicos da fumaça do incêndio. Não por ter ficado preso às chamas, mas por ficar insistindo em salvar vidas que estavam lá dentro. Ele agiu por um impulso. Como aqueles apaixonados que se lançam na aventura de amor. Rumam na direção do beijo, sem medo que este represente a morte. Fazem-no pelo amor... pelo amor ao próximo. Esse é um tipo de idiotice que todos nós apaixonados e amantes bem conhecemos, pois não é uma idiotice egoísta nem muito menos superegoísta. É uma idiotice de nossa id. Aquela que nos leva rumo ao prazer. No caso do tenente Lacerda, a do prazer de dar algum significado para a sua vida, ainda que em prol do outro, mesmo que seja um desconhecido. Imaginei o Lacerda tentando reanimar seus semelhantes instintivamente como um deus que dá o sopro de vida. O tenente Lacerda nos deixa um legado em meio a essa tragédia muito além das gregas. Deu-nos a generosidade dos amantes que beijam não uma pessoa em especial, mas qualquer um de nós, todos nós! Com um beijo de vida, devolveu esperança e nos livrou da morte... do beijo da morte!

segunda-feira, 15 de abril de 2013


Teoria da Bunda
Escrevo sempre que alguma coisa mexe com meu espírito crítico. Tenho predileção por assuntos que me permitam edificar algum pensamento reflexivo ou simplesmente dar boas risadas, me divertir. É claro que o tema acima não me permite edificar nenhum texto acadêmico, se o tentasse fazer, isso sim seria a piada. Então com licença literária e liberdade de expressão permitam-me falar da Bunda. Certa vez um amiga reclamava, numa linguagem arquetipicamente feminina, sobre uma angústia que a preenchia. Seu recente ex havia começado uma amizade, dessas de redes sociais, com uma mulher do tipo periguete. Minha amiga falava das "curtidas" dele nos textos vulgares dela (não promíscuos mas vulgares de um linguajar tacanho e com erros crassos). De repente, não mais que de repente, ela me posta na conversa uma foto da tal... gente... a conversa estava num tom totalmente coloquial, era um papo entre amigos e, de repente, me aparece aquela buzanfa na minha cara... eu fiquei confuso... meu Deus! Tá amarrado! O que essa mulher tá querendo? Essa não se parece com ela! Pensei que era um vírus que entrara na conversa... coisa do inimigo certamente!, pensei. Tá querendo derrubar a minha linha de homem desinteressado em coisas carnais... e foi então que, graças a Deus!, a ficha foi caindo... percebi que ela já estava sentindo-se tão segura comigo que me tratara como se fosse uma amiga ou um amigo gay. Era o desabafo do arquétipo feminino traído pela própria classe. Coisa muito séria Antropologicamente falando. Infelizmente tenho um senso de humor que depõe contra mim. Aquela expressão "perco o amigo mas não perco a piada" é pouco. Aquilo ia além de se perder um amigo... poderia se perder muito mais. Mas não resisti e falei com as vísceras de um australoptecus ou de um Neandertal: "Pô tu ké mi matá"? Que isso novinha? (virei Funkeiro no linguajar, cheguei a ouvir no silêncio da alma o batidão pocotó pocotó pocotó minha eguinha pocotó como quem em transe escuta uma trilha sonora tribal). Eu ria compulsivamente entre a situação tragicômica da amiga e um certo grau de solidariedade masculina... pensava com aquela voz que nos absolve dos impulsos do Id tentando não deixar que o superego tomasse de assalto a situação dando uma de verdade politicamente correta. Não deixei e fui com o ego, a verdade e a transparência. No fim da conversa que em 90 por cento esteve entre os mais elevados graus da humanidade e os outros dez... nem preciso dizer né? Nós estávamos terminando com um tchau aqui e ali quando ela deixou escapar a decepção dos dez por cento exatamente quando elogiava os 90. Foi quando vi a força que tem uma bunda. A grandeza simbólica que essa característica fenotípica da mulher brasileira representa em nossos valores simbólicos. Então, tomei coragem de escrever. Não sei o quanto pra me desculpar pela deselegância e o quanto pra nos permitir dar boas risadas do patético de nossas ações e atitudes. Mas fica por aí... entre uma e outra. Quis dizer a ela e a todas as mulheres por ela ali representadas que há razões maiores que a razão pode explicar a força que tal parte do corpo feminino tem sobre nós homens e mulheres. fiz um procedimento habitual, quase que ritual de breve pesquisa antes de produzir meus textos. Quero ver se não deixo de falar coisas imprescindíveis e corri reverentemente pro "São Google" para consultar o seu oráculo virtual. Ali me deparei com os links da primeira página de pesquisa: Testosterona - as 25 melhores bundas!, Paixão Nacional!, 40 excelentes motivos pra adorar bundas (veja que o texto se refere a algo sagrado, digno de adoração), Top : as dez bundas mais bem sucedidas (entramos na campo do empreendedorismo da sociedade capitalista)... só pela primeira página dá pra elaborar uma ideia conceitual do que falamos mas fui além busquei as origens dessa palavra que só existe no português. Isso pelo fato de ser derivada do contato lascivo entre os sodomitas colonizadores portugueses e as sinuosas mulheres da região da Angola. Lá o nome dos povos e seu dialetos nos deram essa pista da palavra. São eles os Umbundo, Quimbundo, M'Bundo, Ovimbundo... a bunda é o elemento do desejo pecaminoso gerado no conflito entre a exuberante beleza negra africana e o desejo mórbido de a transformar em peça de venda, em objeto de troca, em máquina de trabalho e de tentar construir uma falsa convicção de que eram seres inferiores, perversamente legitimada por uma bula papal diga-se de passagem. Recordei-me do linguajar usual que se apoderou do tema do qual falamos. Então os "Pés na bunda" que são intraduzíveis senão pelo fato injusto de desprezo pela nossa real importância, o "Cara de bunda" certamente não e a cara que o Rei Roberto Carlos faz quando canta "esse cara sou eu", é a cara que tentamos fazer quando somo descobertos em nossa condição de um qualquer, aquele que erra mesmo, tá no erro e não pode negar por ser um pobre mortal. Aliás quando usamos o termo junto a um objeto ou uma atitude assim tipo: caneta bunda (caneta sem importância) ou uma contribuição num ato de caridade bunda (caridade sem qualquer importância); Bundão que todos sabem se tratar de pessoa sem qualquer marca identitária que o denote como alguém diferenciado ou realmente importante; Coisa bunda (coisa sem relevância; enfia na bunda! (aquela expressão que nada mais quer dizer que vc deve pegar aquilo que se transforma em sem nenhum valor por não ser generoso e colocar de volta num lugar de onde isso deveria ter saído é como entender uma obra como produto de uma prisão de ventre). Por fim a ciência e os bons modos a trata de região Glútea, Nádegas. Aí vem Drummond e "desbunda" dizendo nádegas é composta por duas partes e a bunda é a inteireza. Aliás poderia acrescentar que o que a bunda é o que se tem de sobra. O mercado, aproveitando-se da liberação do termo, passou a utilizá-lo como meio de venda. Então, querida amiga e mulheres, não tratem a bunda alheia com algo mais forte que suas inteirezas de seres humanos. Quanto mais fantástica a bunda, menos ela pertence a mulher que a carrega. A "Grande Bunda" (Isso soa como "Grande Irmão", "Grande Pai" ou "Grande Mãe") pertence a todos. Homens e mulheres, pertence a nossa identidade nacional. São bundas públicas. Quem as tem perde até o direito de ocultá-las . Perde o domínio sobre elas. E para que fiquem tranquilas, acreditem: todo homem tem medo de se casar com tal bunda. quanto mais discreta mais pertence a sua mulher e se é da sua mulher por consequência passa ser sua também. Mulheres com exuberantes bundas tem seus pesares para as carregarem. São mulheres cujos olhos masculinos se interessam mais pela parte evidente como um troféu que pelo pacote inteiro. Mulheres que nasceram com tal marca e se recusam a utilizarem-se dela como "porta de entrada" para uma vida bem sucedida sofrem muito por serem sempre confundidas no amor por homens medrosos de terem de dividir com o resto da população tal atributo "sagrado" da beleza. Se você é uma desbundada, alegre-se! Os homens que se aproximarem de vocês o farão por um amor que estará pautado naquilo que é de verdade e não no que forjara. Se for uma dessas normais brasileiras que guardam uma linda e sutil bunda para o momento da intimidade, deem pulos de alegrias! Tanto você quanto a outra são verdadeiro desbundes. Desconstruíram o inalcançável amor das divas para um real e praticável amor pleno de gente real. Pois foram abençoadas por um bem próprio da beleza para usarem na esfera privada( sem trocadilhos), são proprietárias de algo que saciará o desejo dos agudos olhares sinuosos de seus homens. Não invejem e nem alimentem suas iras sobre as popozudas. Elas sofrem como se fossem sacerdotisas que não podem se entregar a qualquer homem que elas desejem. São quase que um bem comum de uma reverência coletiva. São como mitos. Parecem ídolos em redomas de vidro. intocáveis, são escravas da paixão, de uma que não se compadece. uma paixão intocável e quase que patriótica, mas - sem medo de errar - uma paixão nacional. Ricardo Le Duque 22/01/13

Mar morto
Belo e curioso atrai um mundo inteiro por seus encantos e mistérios. Sua densidade nos permite a sensação de andarmos sobre as águas, um dos mais profundos símbolos da fé. Assim é o mar da internet e suas redes sociais. Redes que, como arrastão, nos levam numa pescaria de pescadores amorais que pegam qualquer peixe, até mesmo os filhotes. Não se dão ao trabalho de prepararem iscas adequadas, de conhecerem as marés e de incorporarem o dom da paciência e da imaginação dos bons contadores de causos. Metáfora esdrúxula, crepúscula, minúscula em tamanha grandeza. Esse mar virtual não nos permite mergulhos profundos. Aqueles dos bravos em escafandros. Mar onde a nadadores incautos podem se perder por acharem que não precisam saber nada. e em meio aos nadas e nadadeiras flutuantes vagamos no mar sem vagas, mar de poucas águas. Mar morto que és, enterras a acuidade das inteligência agudas e emerge a gravidade das idiotices. Mar sem porto. Mar morto.