segunda-feira, 15 de abril de 2013


Teoria da Bunda
Escrevo sempre que alguma coisa mexe com meu espírito crítico. Tenho predileção por assuntos que me permitam edificar algum pensamento reflexivo ou simplesmente dar boas risadas, me divertir. É claro que o tema acima não me permite edificar nenhum texto acadêmico, se o tentasse fazer, isso sim seria a piada. Então com licença literária e liberdade de expressão permitam-me falar da Bunda. Certa vez um amiga reclamava, numa linguagem arquetipicamente feminina, sobre uma angústia que a preenchia. Seu recente ex havia começado uma amizade, dessas de redes sociais, com uma mulher do tipo periguete. Minha amiga falava das "curtidas" dele nos textos vulgares dela (não promíscuos mas vulgares de um linguajar tacanho e com erros crassos). De repente, não mais que de repente, ela me posta na conversa uma foto da tal... gente... a conversa estava num tom totalmente coloquial, era um papo entre amigos e, de repente, me aparece aquela buzanfa na minha cara... eu fiquei confuso... meu Deus! Tá amarrado! O que essa mulher tá querendo? Essa não se parece com ela! Pensei que era um vírus que entrara na conversa... coisa do inimigo certamente!, pensei. Tá querendo derrubar a minha linha de homem desinteressado em coisas carnais... e foi então que, graças a Deus!, a ficha foi caindo... percebi que ela já estava sentindo-se tão segura comigo que me tratara como se fosse uma amiga ou um amigo gay. Era o desabafo do arquétipo feminino traído pela própria classe. Coisa muito séria Antropologicamente falando. Infelizmente tenho um senso de humor que depõe contra mim. Aquela expressão "perco o amigo mas não perco a piada" é pouco. Aquilo ia além de se perder um amigo... poderia se perder muito mais. Mas não resisti e falei com as vísceras de um australoptecus ou de um Neandertal: "Pô tu ké mi matá"? Que isso novinha? (virei Funkeiro no linguajar, cheguei a ouvir no silêncio da alma o batidão pocotó pocotó pocotó minha eguinha pocotó como quem em transe escuta uma trilha sonora tribal). Eu ria compulsivamente entre a situação tragicômica da amiga e um certo grau de solidariedade masculina... pensava com aquela voz que nos absolve dos impulsos do Id tentando não deixar que o superego tomasse de assalto a situação dando uma de verdade politicamente correta. Não deixei e fui com o ego, a verdade e a transparência. No fim da conversa que em 90 por cento esteve entre os mais elevados graus da humanidade e os outros dez... nem preciso dizer né? Nós estávamos terminando com um tchau aqui e ali quando ela deixou escapar a decepção dos dez por cento exatamente quando elogiava os 90. Foi quando vi a força que tem uma bunda. A grandeza simbólica que essa característica fenotípica da mulher brasileira representa em nossos valores simbólicos. Então, tomei coragem de escrever. Não sei o quanto pra me desculpar pela deselegância e o quanto pra nos permitir dar boas risadas do patético de nossas ações e atitudes. Mas fica por aí... entre uma e outra. Quis dizer a ela e a todas as mulheres por ela ali representadas que há razões maiores que a razão pode explicar a força que tal parte do corpo feminino tem sobre nós homens e mulheres. fiz um procedimento habitual, quase que ritual de breve pesquisa antes de produzir meus textos. Quero ver se não deixo de falar coisas imprescindíveis e corri reverentemente pro "São Google" para consultar o seu oráculo virtual. Ali me deparei com os links da primeira página de pesquisa: Testosterona - as 25 melhores bundas!, Paixão Nacional!, 40 excelentes motivos pra adorar bundas (veja que o texto se refere a algo sagrado, digno de adoração), Top : as dez bundas mais bem sucedidas (entramos na campo do empreendedorismo da sociedade capitalista)... só pela primeira página dá pra elaborar uma ideia conceitual do que falamos mas fui além busquei as origens dessa palavra que só existe no português. Isso pelo fato de ser derivada do contato lascivo entre os sodomitas colonizadores portugueses e as sinuosas mulheres da região da Angola. Lá o nome dos povos e seu dialetos nos deram essa pista da palavra. São eles os Umbundo, Quimbundo, M'Bundo, Ovimbundo... a bunda é o elemento do desejo pecaminoso gerado no conflito entre a exuberante beleza negra africana e o desejo mórbido de a transformar em peça de venda, em objeto de troca, em máquina de trabalho e de tentar construir uma falsa convicção de que eram seres inferiores, perversamente legitimada por uma bula papal diga-se de passagem. Recordei-me do linguajar usual que se apoderou do tema do qual falamos. Então os "Pés na bunda" que são intraduzíveis senão pelo fato injusto de desprezo pela nossa real importância, o "Cara de bunda" certamente não e a cara que o Rei Roberto Carlos faz quando canta "esse cara sou eu", é a cara que tentamos fazer quando somo descobertos em nossa condição de um qualquer, aquele que erra mesmo, tá no erro e não pode negar por ser um pobre mortal. Aliás quando usamos o termo junto a um objeto ou uma atitude assim tipo: caneta bunda (caneta sem importância) ou uma contribuição num ato de caridade bunda (caridade sem qualquer importância); Bundão que todos sabem se tratar de pessoa sem qualquer marca identitária que o denote como alguém diferenciado ou realmente importante; Coisa bunda (coisa sem relevância; enfia na bunda! (aquela expressão que nada mais quer dizer que vc deve pegar aquilo que se transforma em sem nenhum valor por não ser generoso e colocar de volta num lugar de onde isso deveria ter saído é como entender uma obra como produto de uma prisão de ventre). Por fim a ciência e os bons modos a trata de região Glútea, Nádegas. Aí vem Drummond e "desbunda" dizendo nádegas é composta por duas partes e a bunda é a inteireza. Aliás poderia acrescentar que o que a bunda é o que se tem de sobra. O mercado, aproveitando-se da liberação do termo, passou a utilizá-lo como meio de venda. Então, querida amiga e mulheres, não tratem a bunda alheia com algo mais forte que suas inteirezas de seres humanos. Quanto mais fantástica a bunda, menos ela pertence a mulher que a carrega. A "Grande Bunda" (Isso soa como "Grande Irmão", "Grande Pai" ou "Grande Mãe") pertence a todos. Homens e mulheres, pertence a nossa identidade nacional. São bundas públicas. Quem as tem perde até o direito de ocultá-las . Perde o domínio sobre elas. E para que fiquem tranquilas, acreditem: todo homem tem medo de se casar com tal bunda. quanto mais discreta mais pertence a sua mulher e se é da sua mulher por consequência passa ser sua também. Mulheres com exuberantes bundas tem seus pesares para as carregarem. São mulheres cujos olhos masculinos se interessam mais pela parte evidente como um troféu que pelo pacote inteiro. Mulheres que nasceram com tal marca e se recusam a utilizarem-se dela como "porta de entrada" para uma vida bem sucedida sofrem muito por serem sempre confundidas no amor por homens medrosos de terem de dividir com o resto da população tal atributo "sagrado" da beleza. Se você é uma desbundada, alegre-se! Os homens que se aproximarem de vocês o farão por um amor que estará pautado naquilo que é de verdade e não no que forjara. Se for uma dessas normais brasileiras que guardam uma linda e sutil bunda para o momento da intimidade, deem pulos de alegrias! Tanto você quanto a outra são verdadeiro desbundes. Desconstruíram o inalcançável amor das divas para um real e praticável amor pleno de gente real. Pois foram abençoadas por um bem próprio da beleza para usarem na esfera privada( sem trocadilhos), são proprietárias de algo que saciará o desejo dos agudos olhares sinuosos de seus homens. Não invejem e nem alimentem suas iras sobre as popozudas. Elas sofrem como se fossem sacerdotisas que não podem se entregar a qualquer homem que elas desejem. São quase que um bem comum de uma reverência coletiva. São como mitos. Parecem ídolos em redomas de vidro. intocáveis, são escravas da paixão, de uma que não se compadece. uma paixão intocável e quase que patriótica, mas - sem medo de errar - uma paixão nacional. Ricardo Le Duque 22/01/13

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