terça-feira, 23 de agosto de 2011

A última que morre




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http://www.youtube.com/watch?v=SzX5OQvGGY0

Foi em meio ao período em que o Programa Criança Esperança faz a campanha de recebimento de doações da sociedade que pudemos assistir, estarrecidos, ao trágico espetáculo de horrores protagonizado por “crianças” de rua em Vila Mariana, São Paulo.
Poderia ser apenas mais uma cena da crônica violência urbana marcada pela ausência do poder público, da falta de escola, da ausência de valores familiares e pelo consumo de drogas, como cola, crack... coisas assim. Mas não! Assistimos atônitos a um fenômeno desconhecido, algo inominável, sem adjetivos. Alguma coisa que, ora parecia filmes como Assalto ao Banco Central, ora como Cidade de Deus, ora como Tropa de Elite, Laranja Mecânica... isso tudo somado a outras imagens jamais vistas na tela do cinema. A sequência de Pixote não chegou aos pés da denúncia que as câmeras jornalísticas puderam nos revelar.
Acredito que tenha surpreendido a todos a abordagem delicada e humanizada do segurança da loja que impediu que, no dia seguinte da assombrosa madrugada, outras “crianças” invadissem o estabelecimento comercial para o qual trabalhava.
Um e outro “especialista” no assunto tentava oferecer respostas antigas para um problema novo. Uma “Pedagoga” (acho que era formada nessa cadeira) falava da escola... que era desinteressante, que não utilizava teatro, biblioteca pública... (me perguntei: em que país esta senhora vive?) e o Senhor, me parece que representava o poder público, falava da casa de assistência social que recebera as “crianças”. Ele dizia que aquela instituição fora criada para receber crianças carentes. Não “crianças” com aquele grau de violência.
E eu, “desbundado”, tentando encontrar em algum canto de meus acúmulos de conhecimento de História, Geografia, Antropologia, Sociologia, Filosofia, Teologia e por todas as minhas experiências artísticas... “desbundado”, continuei. Pois minha honestidade para comigo mesmo não me permitiu chegar à conclusão alguma.
Encontrei alento na Filosofia, que me permite questionar sem ter que necessariamente responder. Confortei-me com minha vivência de professor, que me permitiu saber que certamente o problema não vem da Escola. Nunca se ofereceu tantas oportunidades aos alunos, nunca se permitiu tanto a livre expressão das crianças. Nunca se pôde esperar tamanha oportunidade do mercado! Sim! Até o frio e desumano mercado oferece cada vez mais e mais chances de construir algum futuro para pessoas de baixa renda.
Então... o que era aquilo? Larguei de mão a academia, segui a intuição, deixei que as forças do além falassem e passei a acreditar que eram assombrações. Aquelas eram almas vagantes de um futuro morto. Uma infância morta desde o nascimento. Eram como a música do grande compositor contemporâneo Gabriel O Pensador, “Pátria que me Pariu!” Eram a morte de um tempo que nós tivemos, mas que as novas gerações tiveram amputado. Representam a morte da infância. São espíritos inconformados por não terem cumprido suas missões de serem felizes, de poderem brincar de faz de conta sem se importarem se viviam uma realidade. Morte precoce, elas não puderam sonhar. E sem sonhos não se vive. Viviam num espaço paralelo ao nosso e, por uma conjunção astral qualquer, tivemos contato com seus ectoplasmas. Eram hiper-realidade de si mesmos. Seus corpos possuídos de nossos medos antigos não mais nos assustavam, visto que eram pavores passados. Ficava apenas a perplexidade de quem assiste a um fenômeno paranormal. Nos assustamos pelo que não conhecíamos daquilo e não pelo que sabíamos.
Assim assistimos a um “Ausência de Esperança de Criança”. Nos intervalos do “Criança Esperança”. Vimos as sombras horríveis de uma infância que se fora. É o fim de um tempo, de um futuro, visto que naquelas crianças a esperança morreu e a esperança é a última que morre.

A última que morre

Foi em meio ao período em que o Programa Criança Esperança faz a campanha de recebimento de doações da sociedade que pudemos assistir, estarrecidos, ao trágico espetáculo de horrores protagonizado por “crianças” de rua em Vila Mariana, São Paulo.
Poderia ser apenas mais uma cena da crônica violência urbana marcada pela ausência do poder público, da falta de escola, da ausência de valores familiares e pelo consumos de drogas como cola, crack... coisas assim. Mas não! Assistimos atônitos a um fenômeno desconhecido, algo inominável, sem adjetivos. Alguma coisa que, hora, parecia filmes como O Assalto ao Banco Central, hora, como Cidade de Deus, hora, como Tropa de Elite, Laranja Mecânica... isso tudo somado a outras imagens jamais vistas na tela do cinema. A sequência de Pixote não chegou aos pés da denúncia que as câmeras jornalísticas puderam nos revelar.
Acredito que tenha surpreendido a todos a abordagem delicada e humanizada do segurança da loja que impediu que, no dia seguinte da assombrosa madrugada, outras “crianças” invadissem o estabelecimento comercial em que trabalhava.
Um e outro “especialistas” no assunto tentavam oferecer respostas antigas para um problema novo. Uma “Pedagoga”, acho que era formada nessa cadeira, dizia da escola... que era desinteressante, que não utilizava teatro, biblioteca pública... (me perguntei: em que país esta senhora vive?) e o Senhor, me parece que representava o poder público, falava da casa de assistência social que recebera as “crianças”. Ele dizia que aquela instituição fora criada para receber crianças carentes. Não “crianças” com aquele grau de violência.
E eu, “desbundado”, tentando encontrar em algum canto de meus acúmulos de conhecimento de História, Geografia, Antropologia, Sociologia, Filosofia, Teologia e por todas as minhas experiências artísticas... “desbundado” continuei. Pois minha honestidade para comigo mesmo não me permitiu chegar à conclusão alguma.
Encontrei alento na filosofia que me permite questionar sem ter que necessariamente responder. Confortei-me com minha vivência de professor que me permitiu saber que certamente o problema não vem da Escola. Nunca se ofereceu tanta oportunidades aos alunos, nunca se permitiu tanto a livre expressão das crianças. Nunca se pode esperar tamanha oportunidade do mercado! Sim! Até o frio e desumano Mercado oferece cada vez mais e mais chances de construir algum futuro para pessoas de baixa renda.
Então... o que era aquilo? Larguei de mão a academia, segui a intuição, deixei que as forças do além falassem e passei a acreditar que eram assombrações. Aquelas eram almas vagantes de um futuro morto. Uma infância morta desde o nascimento. Eram como a música de Grande compositor contemporâneo Gabriel O Pensador, “Pátria que me Pariu!” Eram a morte de um tempo que nós tivemos mas que as novas gerações tiveram amputados. Representam a morte da infância. São espíritos inconformados por não terem cumprido suas missões de serem felizes, de poderem brincar de faz de conta sem se importarem se viviam uma realidade. Morte precoce, eles não puderam sonhar. E sem sonhos não se vive. Viviam num espaço paralelo ao nosso e, por uma conjunção qualquer astral tivemos contatos com seus ectoplasmas. Eram hiper realidade de si mesmos. Seus corpos possuídos de nossos medos antigos, não mais nos assustavam, visto que eram pavores passados. Ficava apenas a perplexidade de quem assiste a um fenômeno paranormal. Nos assustamos pelo que não conhecíamos daquilo e não pelo que sabíamos.
Assim assistimos um “Ausência de Esperança de Criança”. Nos intervalos do “Criança Esperança”. Vimos as sombras horríveis de uma infância que se fora. É o fim de um tempo, de um futuro, visto que naquelas crianças a esperança morreu e a esperança é a última que morre.