quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Somos todos produtores de eventos I

Somos todos Produtores de eventos.
O mundo de hoje está, cada vez mais, com um grau de individualismo que, volta e meia, vemos coisas tratadas como extremamente normal mas que na verdade é um desvio no que diz respeito a um bom viver.
Eu já estou cansado de fazer uma piadinha que, de tanto fazer, já acho muito sem graça. É assim... quando vou ler um cabeçalho de prova de um aluno e não consigo identificar o nome ou o número tal a estranheza que as letras e números me causam, pergunto de quem é e vem o aluno sem o menor constrangimento me dizendo que aquela é o "M" ou o "7" dele. Aí eu, de bate e pronto, digo em tom de stand up: "mas o "M" não é seu! o "M" é nosso! aha uhu esse "M" é nosso! aha uhu... é... acho que não tem mesmo a menor graça.
Minha luta inglória de dizer ao jovem que as letras, os números, foram feitos para que as pessoas pudessem se comunicar e que pra isso é preciso que eles sejam os mesmos tanto para o emissor quanto para o receptor da mensagem... Aí é que eu fico insuportavelmente chato...
Pois é no meu dia a dia tenho uma estranha mania de buscar a palavra certa pra dizer o que sinto, o que desejo, o que penso. Desde a minha adolescência tive a paixão pelas palavras. Ficava no banheiro horas lendo dicionário tentando conhecer novas que revelassem sentidos que me fizessem pensar, divagar sobre os seus significados.
Isso me foi útil para compor canções, me expressar oral e graficamente. Hoje acordei com uma inquietação sobre como algumas pessoas, aliás muita gente boa, são de determinada maneira contrárias aos seus próprios interesses. E isso é metalinguística da vida. Tem gente que é reativa mas pensa que é ativa. Fica na "fazeção" que é uma beleza mas não dá frutos no que faz. Quando o gás acaba o balão desce como quem é atraído pela gravidade da depressão.
Certa vez eu comentava com uma pessoa bem culta que muitas vezes uma inação é uma atitude. Aquilo soou mal pois a pessoa associava atitude diretamente a expressão da ação. Ora... quem pensa assim facilmente confunde a atitude com uma ação.
Sabe aquelas pessoas que acham que é preciso levantar e sair fazendo as coisas?... pois é! Ela não é, como pensa, ativa. É reativa. Está em reação a alguma coisa. É algo semelhante a agonia de quem se vê diante da morte.
A ação, enquanto atitude, é fruto de pensamento, de avaliação, de ponderação... enfim da razão. Quem confunde isso acaba sendo inconsequente pois não mede suas ações e produz cenários constrangedores e as vezes até trágicos.
Depois ficam reféns de suas contradições pois em suas "fazeções" autossuficientes se encheram de orgulho por se sentirem dignos de serem feitores de suas histórias e depois, com a triste constatação de seus equívocos, acabam envergonhados o suficiente para não assumirem os erros. Morrem secos, mas não dão o Braço a torcer.
Assim é uma pessoa reativa. Há uma palavra que falta no seu vocabulário. "Proatividade" A palavra é nova e até o corretor do word sublinha como errada. Ela nos explica que a atividade que desejamos desempenhar, produzir, precisa de humildade para reconhecer que há pessoas que sabem mais a respeito de algumas coisas que não sabemos. Um sujeito proativo é aquele que reconhece a importância do outro em sua vida, que suas ações precisam ser cuidadosamente avaliadas em relação as consequências que podem produzir.
Sabe aquele tipo que acha feio aqueles que se preocupam com o que os outros vão pensar? Pois é ela é reativa. Ela é capaz de fazer a qualquer coisa que dê na telha só pra provar que não está nem aí pra aqueles que ela supõe ser seus algozes. Afinal de conta esses "outros" são um tipo de gente que reprime, que oprime... Faz sentido não é? Pode ser que você até pense assim: e isso não tá certo? E eu tenho que ficar fazendo as coisas em função das outras pessoas? Pois é. Se você pensou isso você foi reativo e não se deu conta. Em momento algum eu disse que as pessoas devem fazer o que as outras a impõe. O que disse foi apenas que nossas ações produzem reações e isso nos torna responsáveis pelo que produzimos de efeitos nos outros. Isso não lhe parece razoável?
A vida é uma sucessão de produção de eventos e a todos aqueles que você for o único envolvido você pode fazer qualquer coisa sem nenhum pudor e seja feliz por isso. Mas se suas ações envolverem um outro alguém, um grupo de pessoas, uma comunidade, um povo, uma nação... aí meu amigo, sinto muito mas você deverá ter a maturidade de ponderar pois a sua responsabilidade diante do produzido no outro é muito grande.
Se você lembrou do início do texto deve estar se perguntando o que isso que digo tem a ver com as letras e os números que o aluno escreve e não dá pra entender. Se você se perguntou isso ou coisa parecida. Parabéns você é proativo. Tenta entender as coisas pelo todo e não pelas partes.
O grau de egoísmo que vivemos faz com que as pessoas ignorem os códigos que unem as pessoas. Fazem as coisas como se fossem sozinhas, ignoram os outros. Vivem num grau de egoísmo infantil que agem como crianças inconsequentes. Ficar com Zero na prova por não ser identificado a coloca como vítima de uma injustiça que simplesmente não existe. Ela sempre tem um... "ah o que é que custa?" como se o mundo estivesse a sua disposição. Não, não está. Então pense bem antes de uma briga feia com alguém que você diz amar quando isso antecede ao natal, a um aniversário, a uma data importante pra vocês. Não pensar nisso é ignorar a dor do outro e achar que só você sente dor.
Antes de postar uma foto da crueldade com que os israelenses tratam os palestinos se pergunte se você não foi também foi capaz de lançar os seus "mísseis" para tentar mostrar quem é que manda numa relação. Pode ser que não haja ONU que consiga retomar a paz.
Ricardo Le Duque
02 de Agosto de 2014
00:30

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