sexta-feira, 2 de dezembro de 2011


Previsão para o tempo 1: “Chuva de ditadura da liberdade inundará as secas regiões do interior das nossas falsas morais”.

Há alguns anos atrás coloquei em pauta nos meus programas escolares de sociologia a questão que trata a conduta do “politicamente correto”. Este conceito pouco estudado e, menos ainda, tratado como um conceito de caráter ideológico, é o olho do furacão da tempestade que vem sendo gerada em consequência do encontro das massas climáticas da fria moral com o calor irreverente da liberdade.
O fenômeno que ganha cada vez mais proporções incontroláveis como é bem peculiar às grandes tragédias naturais, vem ganhando força de forma paradoxal à idéia aristotélica de que tudo que não é natural é cultural.
Ou nossa cultura de liberdade naturalizou-se, ou a nossa natureza de seres livres nos inculturou com sua irracível e brutal força natural.
Vemos a todo instante a desobediência civil sem sabermos o que podemos dizer sem ofender a suprema e, cada vez mais, sagrada expressão de liberdade.
As formas veladas e autoritárias que quase todas as instituições do mundo do liberalismo econômico construiu, vem sendo confrontada com os mais diversos tipos de reações libertárias. As vezes até mesmo acentadas, contraditoriamente, na própria lógica do mercado.
Programas humorísticos são a ponta mais afiada deste iceberg. O humor é o mais importante sintoma deste fenômeno pelo fato de ser ali onde mora a intercessão entre o mundo nu, cru e real e as ridículas estruturas morais desgastadas pelos novos e incontrolável tempo das liberdades virtuais, tão reais, nas redes mundiais interligadas na Internet.
Poderia falar aqui de situações como a estranha causa libertária dos estudantes da USP mas prefiro falar da inconseqüente campanha que o programa Pânico na TV vem fazendo contra O apresentador e humorista Jô Soares.
A turma do “Pânico” veio crescendo como uma criança que nasceu pra reinar em seu tempo. Como criança predestinada acabou incorporando uma espécie de "Direito Divino dos Reis", aquele mesmo direito que consagrou os poderes absolutos dos Reis Luíses da França e seus pares Ingleses, Portugueses e Espanhóis.
Mimados pelos mantenedores de sua emissora e consagrados pelo seu público Teen, os rapazes do Pânico seguem as correntes históricas acaloradas pelas espasmódicas risadas rumo as fronteiras morais representadas pela emissora Globo, mais alta signatária da ideologia estética do que chamamos de "politicamente correto".
Esse choque é uma espécie de outono ocidental (parodiando a primavera árabe). Se lá nas “arábias” os ventos de mudança vieram de um povo oprimido pelas ditaduras opressoras de uma moral conservadora e pela perpetuação de poderes de figuras carismáticas que outrora foram o símbolo de resistência. Aqui nossos ventos libertários assumem contornos autoritários de uma liberdade inquestionável. Uma que pode ser comparada aquelas crianças que tudo recebem de seus pais sem serem confrontadas com suas próprias carências de aprendizagem de um mundo de adultos. Aqui o adulto é que tem de aprender com as crianças em suas "travessuras". As experiências dos mais velhos são sempre vistas com desconfiança de quem tem algum rabo preso a esconder. Então, neste caso, sem reserva moral o velho curva-se ao novo com o mesmo medo que os “Kadafes” da vida tiveram das forças rebeldes. Não se render as gracinhas da “criancinhas” pode ser sinônimo de linxamento popular.
E a nós, observadores dos novos fenômenos do tempo, cabe apenas tentar entender o comportamento das massas, tendo apenas uma única certeza: Vem chuva forte por aí!

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