quarta-feira, 6 de março de 2019

Esta semana recebi, pelo Zap, um discurso, desses que vão entrar para antologia das biografias dos políticos brasileiros. Foi um belíssimo e inspirador discurso de Felipe Rigoni. Ele assumiu, nesta legislatura, o cargo de deputado federal pelo Espírito Santo. O jovem político de Colatina falou de sua história e foi precisamente numa parte que me chamou profundamente a atenção! Ele falava de sua superação na condição de ser cego, não de nascença, mas de um mal que o acometera ainda na infância. Ele foi brilhante no discurso que foi pautado na conciliação entre todas as partes da nação, independente de espectro político. O que é muito o que eu defendo e sempre defendi. Falou de, apesar de suas limitações chegara ali naquele ponto: Eleito com oitenta e tantos mil votos e recém formado no mestrado em políticas públicas. Tudo isso já seria uma narrativa antológica mas o que mais me chamou a atenção fora o momento em que ele se deu conta de que era cego.
Ele dissera que estava sempre se valendo de artifícios para superar a sua condição, se vendo como alguém com uma visão desprivilegiada até que, numa aula, o seu colega ao lado lhe disse: Felipe! Você já escreveu três vezes na mesma linha.
Pois bem. Os nossos limites são vários e, sejam ele a visão,  a audição ou qualquer sentido, ou ainda fraqueza moral, distúrbio afetivo... qualquer que seja a limitação o difícil é a aceitação desta condição. Todavia ali reside a chave para a superação. Rigoni, deprimido diante da “toalha jogada”, teve algo fundamental para começar a vitória sobre si mesmo diante daquela derrota. Seu pai.
A figura do pai é emblemática porque é a fonte maior de inspiração, assim como a mãe. Mas poderia ser outra pessoa com tais atributos morais e afetivos. O Rigoni pai disse ao filho algo parecido com aquela máxima “a dor é inevitável mas o sofrimento é opcional”.
Assim Felipe ficou na latência das palavras de seu pai até descobrir na filosofia o significado maior para aquilo. Entendeu que podemos abrir mão de tudo nessa vida, menos de assumirmos a liberdade de nossas escolhas.
Estamos diante de um Brasil cuja última fronteira da esperança foi cruzada. Não há, sequer um brasileiro neste momento que não se sinta como alguém que escreveu três vezes na “mesma linha”. O Cidadão da esquerda, da direita, do centro e de suas subjacentes possibilidades, já se apercebeu que fomos incapazes de enxergar o que é de fato a política dos poderosos neste pais. Estamos diante daquele momento que a toalha de nossa soberba vontade de vencer no ring ideológico é jogada ao chão como quem reconhece a derrota de todos. Cabe-nos tão somente decidirmos se dicaremos como vítimas crônicas de nossas incapacidades intelectuais ou se encontraremos a coragem de não abrirmos mão de nossa liberdade de escolha.  E sobre escolhermos não se tem muitas opções. Ou a gente vai ficar com dedos em riste apontando supostos culpados e reescrevendo inúmeras vezes na mesma linha ou reconhecemos que doravante só nos resta lutar contra os nossos medos e contra aqueles que desejam nos assombrar para obterem vantagens sobre nossas fragilidades. Assumamos as nossas cegueiras e olhemos pelos sentidos que nos sobrarem. Dessa maneira conseguiremos estabelecer um novo horizonte, um novo sentido que possa nos projetar para um país verdadeiramente reconquistado. Mas dessa vez por nós, brasileiros.

Ricardo Le Duque. 22/02/19

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